sábado, março 12

Páris.

"Pensei uma vez mais em Julieta.
Interroguei-me o que faria se Romeu a tivesse abandonado; não por ter sido desterrado, mas simplesmente por ter perdido o seu interesse. E se Rosalind o tivesse cumprimentado e ele mudasse de ideias? E se, em vez de desposar Julieta, tivesse desaparecido?
Julgava saber como Julieta se sentiria.
Ela não voltaria, propriamente, à vida que tinha. Jamais seguiria em frente, tinha a certeza. Mesmo que vivesse até ficar velha e grisalha, sempre que fechasse os olhos, seria o rosto de Romeu que via por trás das pálpebras. E ela acabaria por aceitar isso.
Perguntei-me se, no final, teria desposado Páris, apenas para fazer a vontade aos pais e não perturbar a ordem. Ou provavelmente não, concluí. Contudo, a história não revelava muito a respeito de Páris. Era uma personagem sem densidade - com uma posição sem qualquer importância, ameaça ou prazo que a obrigasse a agir.
E se Páris fosse mais complexo?
E se Páris fosse amigo de Julieta? O seu melhor amigo? E se ele fosse o único a quem Julieta podia fazer confidências acerca do seu arrebatador romance com Romeu? A única pessoa que realmente compreendia e a fazia sentir-se novamente quase humana? E se fosse paciente e gentil? E se ele cuidasse dela? E se Julieta soubesse que não conseguiria sobreviver sem ele? E se ela realmente a amasse e quisesse que ela fosse feliz?
E... e se ela amasse Páris? Não da mesma maneira que amava Romeu, nem nada que se parecesse, mas o suficiente para também querer que ele fosse feliz?
(...)
Se Romeu tivesse partido para nunca mais voltar, teria alguma importância se Julieta aceitasse Páris a seu pedido? Talvez ela devesse aproveitar os restos de vida que ficaram para trás. Talvez fosse o mais perto que ela conseguira chegar da felicidade."

Stephenie Meyer, in Lua Nova, Capítulo 16: Páris.